DEMÓCRITO
(cerca de 460-370 a.C.)
Natural de Abdera, colônia jônica da Trácia
Foi discípulo e sucessor de Leucipo na direção da escola de Abdera. Contemporâneo do sofista Protágoras, suas preocupações se voltam para o campo da ética e das técnicas. Segundo Diógenes Laércio, deixou umas noventa obras. Dentre elas, restam-nos fragmentos da Pequena Ordem do Mundo, Da Forma, Do Entendimento, Do Bom Ânimo. É considerado atomista e, também, o primeiro pensador materialista. Para solucionar o problema de Parmênides e dos eleatas, fazendo do ser uma unidade fechada e imutável e tornando incompreensível o movimento, Demócrito desenvolve o atomismo, a teoria do átomo, criada por Leucipo e destinada a conciliar o ser imóvel dos eleatas com a pluralidade mobilista de Heráclito. Seu atomismo se resume em dizer que: a) as qualidades sensíveis (sabor, odor, quente, frio, cor etc.) são aparências; b) esses corpúsculos, que são os átomos, não possuem nenhuma qualidade sensível, pois só têm propriedades geométricas (grandeza e forma); c) o movimento é função da existência do vazio. A novidade física e lógica do atomismo é a concepção mecanicista da necessidade: "nada nasce do nada, nada retorna ao nada", "tudo o que existe nasce do acaso e da necessidade". Os átomos constituem a explicação última do mundo.
Por convenção existe o doce e por convenção o amargo, por convenção o quente, por convenção o frio, por convenção a cor; na realidade, porém, átomos e vazio... Em realidade não conhecemos nada de preciso, mas em mudança, a opinião de cada um depende da disposição do corpo e das coisas que nele penetram e chocam, afluência dos átomos. (Sexto Empírico, Fundamentos).
O fragmento acima afirma que as qualidades são uma convenção estabelecida entre os homens. Convenção (nómos) é aquilo que não é por Natureza (phýsei), mas por opinião e por acordo entre os homens. A percepção das qualidades das coisas é subjetiva, isto é, depende das disposições do corpo de cada um, varia com as variações do corpo (para o doente, o doce pode tornar-se amargo, por exemplo), de tal modo que diferentes homens terão diferentes percepções das coisas, e um mesmo homem, dependendo das disposições de seu corpo, terá percepções diferentes de uma mesma coisa. Essas qualidades, os filósofos posteriores chamarão de qualidades sensíveis, para marcar com esta expressão a idéia de que não são qualidades das coisas, mas modos subjetivos ou humanos de perceber as coisas. Ao escapar do monismo imobilista de Parmênides e do pluralismo mobilista de Heráclito, Demócrito adota um ritmo ternário: duas teorias contrárias (tese e antítese) se conciliam fundindo-se numa síntese superior. Hegel retomará esse ritmo de três tempos e fará dele a grande lei do mundo. Proverbial na Antigüidade era o sorriso contínuo de Demócrito.
Acontecimentos culturais e históricos:
460-425 - História de Heródoto
454 - Processo de Anaxágoras
450-406 - Tragédias de Eurípides
449-429 - Poder de Péricles em Atenas
431 - Início da Guerra do Peloponeso
427-388 - Comédias de Aristófanes
415-413 - Expedição ateniense da Sicília
411 - Poder dos Quatrocentos
404 - Derrota ateniense em Egos-Potamós: tirania dos Trinta em Atenas
400 - Expedição dos Dez Mil
387 - Incêndio de Roma pelos gauleses
375 - Xenófanes: a Anábasis
371 - Vitória tebana em Leuctras
Bibliografia recomendada:
CHÂTELET, François. História da Filosofia - A Filosofia Pagã. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981
CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da Filosofia. São Paulo, vol. I, Ed. Brasiliense, 1998
JAEGER, Werner. Paideia. São Paulo, Ed. Herder, s/d.
Pré-Socráticos. Tradução de Paulo F. Flor, Coleção Os Pensadores. São Paulo, vol. II, Nova Cultural, 1989
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo, vol. I, Edições Loyola, 1993