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LUCRÉCIO

(cerca de 98-55 a.C.)

O poeta latino ou romano Titus Lucretius Carus, mais conhecido como Lucrécio, tornou-se famoso por seu poema filosófico Da Natureza das coisas, no qual glorifica Epicuro e revela sua concepção do Mundo. Composto em seis cânticos, esse poema começa invocando Vênus, princípio de toda a vida; em seguida, expõe as leis de Demócrito e de Epicuro a respeito do Universo; termina mostrando as etapas que o homem e a civilização devem percorrer antes de alcançar a sabedoria, fim supremo da existência, segundo ele. Com grande qualidade poética, Lucrécio descreve todos os fenômenos da natureza, dos mais belos aos mais horrorosos, explicando-os por causas naturais, à maneira do atomismo probabilista e mecanicista de Epicuro, pois a filosofia precisa libertar os homens do terror, das superstições e do medo dos deuses. Contra todos os medos, o filósofo deve buscar o sentido do belo e a tranqüilidade da alma. Da vida de Lucrécio se conhece pouquíssimo. De S. Jerônimo aprendemos que Lucrécio enlouqueceu por ter bebido um filtro amoroso, e que compôs o seu poema nos intervalos de lucidez que a loucura lhe concedia. Embora a notícia seja por muitos considerada pura fábula, não são poucos os estudiosos que aí vêem pelo menos uma verdade parcial, não só porque tais filtros eram efetivamente usados em Roma, e não só por uma certa desordem do poema, mas também por certo furor poético que em não poucas passagens cria uma atmosfera exaltada, e também por uma ânsia que invade todos os Cânticos. Lucrécio foi, nos tempos modernos, muito mais estudado e amado do que o próprio Epicuro. Estudiosos concordam em considerar a obra de Lucrécio, o De rerum natura, como o maior poema filosófico de todos os tempos. Lucrécio repete conceitos, em seus versos, sustentados exatamente por Epicuro, numa polêmica dirigida a refutar o diálogo aristotélico, intitulado Sobre a Filosofia. Segundo estudiosos, idêntica é a marca espiritual que caracteriza o pensamento do fundador do Jardim, Epicuro, e a do poeta romano que o cantou. A mesma angústia que invade todo poema lucreciano está na base do filosofar de Epicuro: são justamente os obscuros males da alma, dos quais fala Lucrécio, que Epicuro queria afugentar com a sua palavra e recompor em superior ataraxia (termo grego que designa o estado da alma que nada consegue perturbar. Ele é obtido, segundo o estoicismo, pela eliminação das paixões). Certamente Epicuro deve ter experimentado dentro de si todas as angústias que quis curar: o medo dos deuses (ele, tão convencido da existência de seres divinos, a ponto de admiti-los sem quaisquer razões físicas, éticas ou escatológicas), o medo dos males (ele, tão sofredor do físico e tão sensível no espírito) e o medo da morte (ele, que compreendeu tão bem que ela é sentida como o mais horrendo dos males para os homens). E, como vimos, a ataraxia, a felicidade epicurista, não é inércia, não é imobilidade, tampouco imediato dom da natureza: ela é, ao contrário, conquista suada e sofrida, segundo Lucrécio. A ataraxia epicurista é, a seu modo, triunfo da razão do homem sobre o irracional que o circunda. Lucrécio aderiu a uma concepção antiteológica do universo, evolucionista e antiteleológica. Ficou preso a essa perspectiva e a expôs muito mais firme e eloqüentemente do que qualquer outro pensador antigo, contam os estudiosos. Ele aplicou essa concepção do mundo à evolução das plantas, dos animais e do homem, e propôs uma teoria de evolução biológica e social. A novidade que Lucrécio traz aos princípios epicuristas deve, pois, ser buscada na sua poesia. Escreve Boyancé : "Para conquistar o homem, até para libertá-lo de suas paixões, é preciso antes de tudo comovê-lo. Para libertar os homens, Lucrécio compreendeu que não se tratava de obter, nos momentos de fria reflexão, a sua adesão a algumas verdades de ordem intelectual, mas era preciso tornar essas verdades, como diria Pascal, compreensíveis ao coração". Lucrécio foi o grande enriquecedor dos conceitos epicuristas, dando-lhes mais ênfase e paixão.

Acontecimentos culturais e históricos:

98-91 - Guerra Social
88-79 - Guerra civil. Ditadura da Sila
73-71 - Sublevação de Spartacus
60 - Primeiro Triunvirato Pompeu-Crasso-César
58-51 - Conquista da Gália

Bibliografia recomendada:

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo, vol. III, Edições Loyola, 1993.