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PANÉCIO

(cerca de 180-110 a.C.)

Filósofo grego, nascido em Rodes

Transferiu-se para Atenas depois de ter ouvido lições de Crátes, talvez em Pérgamo, mas sobretudo, depois de ouvir lições de Diógenes de Selêucia, então dirigente do Pórtico (palavra usada com o sentido figurado de escola estóica). Tornou-se seguidor convicto do discurso estóico, permanecendo ligado à escola mesmo quando Antípatro assumiu a sua direção. Visitou Roma mais de uma vez, tendo nessas viagens conhecido Cipião. Participou com Cipião de uma viagem ao Oriente que, juntamente com sua estada romana, deve ter incidido afirmativamente sobre a sua formação espiritual. Em 129 a.C. tornou-se dirigente do Pórtico (médio Pórtico), sucedendo a Antípatro. O Pórtico, depois de Crísipo, limitou-se substancialmente à conservação e defesa dos dogmas, perdendo notavelmente em vigor e eficácia. Foi Panécio quem, nos últimos trinta anos do século II a.C., renovou o seu antigo esplendor, restituindo-lhe a vitalidade aparentemente perdida. Mas, ele só teve sucesso nesse empreendimento porque introduziu no patrimônio doutrinal do Pórtico modificações de certa importância. As razões que levaram a essas mudanças são muitas e diversificadas. Primeiro porque críticas ameaçavam a doutrina do Pórtico; em segundo, porque novas idéias foram adotadas por Panécio, de seus amigos romanos e, por fim, a atenta e apaixonada releitura de Platão, Aristóteles e de alguns peripatéticos, que o fez acolher algumas idéias, pois a seu ver, podiam considerar-se derivadas, assim como o Pórtico, da mesma matriz, isto é, Sócrates. São vários os temas debatidos por Panécio, mas, no entanto, são várias as diferenças que notamos entre o estoicismo antigo e o estoicismo médio, ao qual nos referimos agora. Panécio inaugura no Pórtico uma tendência eclética, que leva em conta as críticas céticas, o novo espírito da romanidade, as doutrinas de Platão e do Perípato. A julgar pelos testemunhos que nos chegaram, não parece que Panécio se tenha ocupado de problemas lógicos, nem que tenha sistematicamente repensado todos os problemas da física. Ele trouxe algumas correções aos dogmas da escola, provavelmente, para fugir às críticas céticas. Sobre a física, sobre as doutrinas psicológicas, ética e política, enfim, Panécio introduziu em todos os temas algumas modificações. Ele negava a astrologia, o que, analogamente, redimencionou o conceito estóico do Destino. Na Psicologia, Panécio trouxe inovações, sob o influxo de Aristóteles e de Platão. É obvio que Panécio não podia seguir Platão e Aristóteles na concepção da imortalidade da alma. Ele raciocina do seguinte modo: a alma nasce e, portanto, deve morrer. Também o grande princípio do Pórtico de que o autêntico bem do homem é a virtude, isto é, o bem moral, toma um rumo crítico com Panécio. Ele sustenta: a virtude não é suficiente, mas é preciso também boa saúde, abundância de meios de vida e força. Também na determinação das virtudes, Panécio afastou-se em parte do antigo Pórtico. Ele parece retomar a distinção entre virtude teórica e virtude prática. Virtude teórica é o Saber, virtudes práticas são: a justiça, a magnanimidade e a temperança. Essas virtudes enxertam-se sobre quatro tendências fundamentais do homem : o desejo do puro saber, o desejo de conservar a si e à comunidade, o desejo de não depender de ninguém e de nada e o desejo de moderação. Deve-se observar ainda, um ponto do pensamento de Panécio, e, precisamente, a negação da apatia. Essa negação levou aos limites da ruptura com o espírito estóico. Panécio viu em Roma a realidade do Estado forte e vivo; viu homens agirem e levarem a justo termo as suas ações. Por isso, sentiu que deveria romper aquela "impassibilidade" estóica que, para ele, é mortificação da vida. Escreveu uma primeira obra para ensinar como afrontar e suportar a dor, fortificando o físico e o espírito, para mostrar como evitar que a dor seja obstáculo ao cumprimento do dever. Escreveu uma obra dedicada à euthymía, isto é, ao contentamento e à alegria de viver. Panécio, segundo estudiosos, representa o momento humanista do estoicismo. Esse humanismo, mais do que em qualquer outro ponto da sua doutrina, é bem visível na correção trazida à fórmula da moralidade, "viver segundo a natureza", fórmula que é transformada em "viver segundo as disposições que nos são dadas pela natureza". Assim, a tarefa moral é personalizada e, portanto, humanizada, enquanto permite a cada um realizar-se de modo próprio, justamente segundo as diferentes disposições postas nele pela natureza. Nesse corte mais humano do estoicismo, com a relativa valorização dos "deveres", está a importância histórica de Panécio. Através dele, o conceito de "dever" entra em Roma, e através de Cícero, que o retoma de Panécio, é transmitido a todo o Ocidente como uma conquista espiritual definitiva. Panécio morreu por volta do início do século I, provavelmente por razões de saúde. Não nos chegou nenhuma de suas obras, mas podemos conhecer sua filosofia através de seus seguidores, como Possidônio e de críticos e historiadores.

Acontecimentos culturais e históricos:

168-148 - Segunda Guerra da Macedônia
166-160 - Comédias de Terêncio
161-127 - Trabalhos astronômicos de Hiparco
150-120 - Políbio: Histórias
149 - Terceira Guerra Púnica
146 - Destruição de Cartago
133-121 - Os Gracos
112-106 - Guerra contra Jugurta

Bibliografia recomendada:

REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. São Paulo, vol. III, Edições Loyola, 1993.